A maior floresta tropical do mundo está perdendo a sua capacidade de se recuperar dos danos causados por secas, incêndios e desmatamento. É o que sugere um novo estudo publicado no jornal científico Nature Climate Change.
Em um período ainda mais curto do que se pensava, a Amazônia pode atingir um ponto de não retorno e acabar por se tornar uma savana degradada, um ecossistema composto por uma mistura de pastagens e árvores mais tolerantes à seca.
Realizado por pesquisadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, o estudo revelou que mais de 75% da floresta amazônica vem perdendo resiliência desde o início dos anos 2000, principalmente em regiões com menos chuvas e em partes da floresta tropical que estão mais próximas da atividade humana.
O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) diz que a combinação de efeitos provocados pela expansão agropecuária e a abertura de estradas, com fragmentação e degradação da floresta, já provocam perdas e danos para as pessoas e para os ecossistemas.
As expectativas são de que as consequências serão catastróficas se não forem revertidas imediatamente. O impacto do aumento da temperatura e umidade projetado para o Brasil inclui o aumento de mortes por calor em 3% até 2050, e em 8% até 2090.
Entre as iniciativas voltadas para essa questão está o Legado Integrado da Região Amazônica (LIRA), que é uma iniciativa idealizada pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, Fundo Amazônia e Fundação Gordon e Betty Moore, parceiros financiadores do projeto.
Os parceiros institucionais do LIRA/IPÊ são a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Amazonas – SEMA (AM) e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará – IDEFLOR-Bio.
“A relevância da floresta para o equilíbrio climático, biodiversidade e bioeconomia torna os esforços direcionados à conservação do bioma um objetivo de apelo global, pois diz respeito a toda a humanidade”, diz Fabiana Prado, coordenadora do LIRA/IPÊ.
Para Fabiana, a falta de visão e vontade política é um dos grandes desafios para a conservação da Amazônia.
“O que precisamos entender é que a Amazônia é um ativo ambiental com possibilidades de modelos de áreas protegidas com negócios que podem alcançar grandes resultados com investimentos não tão altos, utilizando bioeconomia e soluções baseadas na natureza com manutenção do Bioma”, afirma.
Atualmente, a Amazônia tem 753 áreas legalmente protegidas, entre terras indígenas e unidades de conservação, e o desmatamento é 6 vezes menor dentro dessas áreas.
A resiliência da floresta amazônica às mudanças climáticas e de uso da terra é crucial para a biodiversidade, o clima regional e o ciclo global do carbono e, segundo, a coordenadora do LIRA/IPÊ, já existem movimentos colaborativos entre empresários, investidores, sociedade civil e instituições de pesquisa que atuam em redes para estimular as estruturas de governo a cumprir o seu papel.
“Na coordenação, trabalhamos em conjunto com 116 organizações que atuam diretamente em 62 municípios amazônicos (AC, RO, AM, PA e MT) com 37 mil beneficiários diretos. O que precisamos é que essa rede seja cada vez maior”, finaliza.
O projeto LIRA/IPÊ
O projeto abrange 34% das áreas protegidas da Amazônia, considerando 20 UCs Federais, 23 UCs Estaduais e 43 Terras Indígenas, nas regiões do Alto Rio Negro, Baixo Rio Negro, Norte do Pará, Xingu, Madeira-Purus e Rondônia-Acre.
O objetivo do projeto é promover e ampliar a gestão integrada para a conservação da biodiversidade, a manutenção da paisagem e das funções climáticas e o desenvolvimento socioambiental e cultural de povos e comunidades tradicionais.