Dia de recordação dos entes queridos que já partiram para outro plano, o feriado de Finados também mostra que, além de lembrança e saudade, a morte pode significar esquecimento de muitos daqueles que já cumpriram com suas missões neste mundo. Basta uma ligeira caminhada pela chamada por muitos de “a última morada” para se ter uma ideia dessa realidade.
Para muitos, os cemitérios despertam um sentimento misto de medo e curiosidade. Entrar em um deles remete, quase sempre, ao pensamento que procuramos manter afastado do rol de nossas principais preocupações em vida. Salutarmente, evitamos pensar na morte mesmo sabendo ser ela a única certeza de nossa existência.
Por outro lado, as necrópoles incitam o interesse pelas muitas histórias de vidas encerradas em seus túmulos frios e silenciosos. Como e quando viveram, como morreram e o que fizeram por este mundo em que continuamos a dar sequência à vida até que seja chegada a nossa vez.
Essa curiosidade me faz perambular quase que todos os anos por entre as antigas catacumbas e os modernos jazigos construídos pelas famílias mais abastadas financeiramente. É curioso que mesmo após a morte, destino comum a todos os viventes, as pessoas continuam a ser distinguidas pela condição social e econômica.
Simples sepulturas, muitas vezes providas apenas de mera cruz de madeira, dividem o espaço com túmulos bem ornados e capelas recobertas de caríssimas peças de mármore e belos epitáfios que denunciam a notoriedade de uns e o anonimato de outros.
Outra realidade que se nota ao visitar muitos cemitérios é o abandono de vários túmulos, muitos dos quais, de tão antigos, já se encontram quase que completamente destruídos pela ação inexorável do tempo. Em vários casos, já não é possível se identificar quem ali teve depositados os seus restos mortais.
Impossível saber ao certo a razão desse triste abandono que fatalmente culminará com o total desaparecimento daquilo que certamente representa o último vestígio material da existência e da passagem de um ser humano pela vida.
Famílias que deixaram um lugar para viver em locais distantes ou pessoas que migraram de outros lugares e que, ao morrer, não deixarem quem zelasse do pedaço de chão em que foram sepultados são algumas das circunstâncias que imagino explicar esse lamentável esquecimento.
A morte deve ser razão para saudade e lembrança, mas jamais para o abandono e o esquecimento a que muitos personagens de nossa história, anônimos ou não, estão relegados.
Se pensarmos bem, e isso é certo, esse abandono muitas vezes já começa em vida para se estender pela viagem mais longa e desconhecida para a qual todos os seres humanos têm passagens garantidas, mas apenas não sabem o dia do check-in.