A atual revisão do Plano Diretor de Rio Branco é uma necessidade, sobretudo, empresarial. A declaração do próprio presidente do Conselho Municipal de Urbanismo (e secretário de Infraestrutura de Rio Branco), Antônio Cid Ferreira, não deixa dúvidas. “O Plano Diretor não pode ser uma camisa de força para quem deseja investir”, afirmou.
De 1985 (ainda na gestão de Flaviano Melo), quando foi esboçado o primeiro Plano Diretor da cidade e que só foi concluído no ano a seguinte com Adalberto Aragão, até 2006 (na administração de Angelim) não seria exagero dizer que o documento havia envelhecido e que era preciso atualizá-lo. A lacuna entre um documento e outro foi de 20 anos, com uma diferença: Angelim, praticamente, refundou a ideia em novas bases. Seguiu à risca o Estatuto das Cidades.
Nova revisão do Plano Diretor viria acontecer 10 anos depois, já com Marcus Alexandre como prefeito, em 2016. Houve assembleias em todas as regionais da cidade. Alexandre assumiu uma cidade cujo movimento popular havia se acostumado a influenciar a agenda pública: Angelim referenciou a gestão com o conceito do Orçamento Participativo. Por coerência, na hora de reunir as mudanças das regras que regem a cidade, o movimento popular não poderia ser excluído. O Ministério das Cidades à época reconheceu o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano coordenado por Angelim como o mais participativo do país. Foram 17 meses em que até cursos intensivos sobre Estatuto das Cidades para líderes comunitários foram oferecidos.
Esse perfil de intervenção nos rumos da cidade mudou. Agora, é a vez das empresas. E elas souberam se organizar. Dos 66 integrantes com assento no Conselho Municipal de Urbanismo, a maior parte é composta por representantes da sociedade civil e movimento popular. Embora em menor número, as representações de classes patronais se destacam pela força de intervenção na agenda.
O Fórum Empresarial de Desenvolvimento do Acre é a instância que melhor representa essa capacidade de articulação. Todas as representações patronais acompanham com muito interesse o debate sobre as mudanças previstas no Plano Diretor. Criaram um Grupo de Trabalho em que fazem discussões (algumas acaloradas) para tentar apresentar os ajustes necessários ao Conselho Municipal de Urbanismo. Os empresários com os quais o ac24horas conversou falam com intimidade sobre o atual processo de revisão do plano: não é algo alheio à agenda empresarial.
Para a Prefeitura de Rio Branco, o que estava sob a responsabilidade dela, foi feito. Agora, cabe aos conselhos apresentarem as sugestões. “O Plano Diretor, basicamente, está pronto. Mas, como queremos uma coisa democrática, os conselhos irão fazer as suas observações para que sejam avaliadas, inseridas no documento e, posteriormente, apreciadas na Câmara”.
Para reforçar o que considera como “perfil democrático” da revisão do plano, o presidente do CMU enaltece a figura do prefeito. “É necessária muita paciência, muita conversa, muito diálogo. Até o presente momento tem fluído bem. Tanto que chegamos ao ponto de dizer ‘fechamos’. Mas uma meia dúzia não se sentiu ainda bem. Aí veio, novamente, a abertura. E aí, se o prefeito fosse um cara truculento, radical, ele já teria dito: ‘Não! É isso aqui! Vou mandar para a Câmara!’ Não fizemos isso”, relata. “Estamos abrindo novamente o plano diretor para inserir mais algumas demandas que possivelmente vão vir”.