Os heróis anônimos que se arriscam para salvar a vida de peões no rodeio

Foto Jardy Lopes

Os rodeios se popularizam cada dia mais. No Acre, as festas se espalham pelos municípios do interior atraindo uma multidão que se “aperta” para assistir a disputa entre peões e touros.

Mas há personagens da engrenagem dos rodeios que passam despercebidos, mas que são essenciais para o espetáculo e para garantir a segurança dos peões em um esporte considerado extremamente perigoso. Eles são conhecidos como salva-vidas. O nome é autoexplicativo e os corajosos homens entram na arena com o único objetivo de impedir que os peões sejam pisados e atingidos por touros que pesam em média 800 quilos.

Para salvar a vida dos peões, salva-vidas colocam em risco à própria segurança – Foto Jardy Lopes

No último rodeio realizado no Acre, no último final de semana, em Sena Madureira, dois salva-vidas se destacaram na proteção aos peões. Um deles, vivia um momento especial. Depois de 15 anos salvando peões, era a última vez que Piaba, como é conhecido no mundo do rodeio, entrava em uma arena para fazer o seu trabalho.

Piaba fez sua despedida como salva-vidas durante a ExpoSena – Foto Jardy Lopes

Emocionado, Piaba, contou ao ac24horas um pouco da sua história. Edson Aguiar de Albuquerque, 40 anos, é o nome de batismo de um dos principais salva-vidas do Acre. Ele explicou como começou sua vida pelos rodeios. “Tudo na vida é dom. Eu nasci e me criei na roça e sempre gostei de lidar com os animais. Sempre tinha uma vaca braba, aí a gente começa a perceber que você tem talento. Eu fui correndo atrás e hoje sou profissional e vivo disso”, contou.

A emoção de Piaba em Sena Madureira era justificável. Foi na cidade que ele fez seu primeiro rodeio e 15 anos depois encerrava sua vida perigosa nas arenas. “Estou encerrando a minha carreira. Já tenho 40 anos que não são 40 dias. Agora tenho um filho, o que eu ganhei no rodeio nesses 15 anos não é uma fortuna, mas o que consegui é capaz de manter minha família. Eu sou muito grato ao rodeio, tudo que tenho, eu ganhei nas arenas. Eu soube fazer investimentos, economizar e hoje sou uma pessoa muito grata”, explica.

Piaba conta que tem certeza que já salvou muitas vidas. “Eu já salvei muitas vidas de peões e de companheiros de trabalho. Isso é muito gratificante. Se eu disser que eu não tenho medo de um touro, estarei mentindo, mas é preciso ter atenção e a experiência de tantos anos faz a diferença”, explica.

O legado de Piaba nas arenas já tem um dono. Acreano de Tarauacá, aos 23 anos, João Vitor Sales, surge como a grande promessa das arenas como salva-vidas. No rodeio, João Vitor é conhecido como Abacaxi. Apesar de jovem, já são cinco anos arriscando a vida nas festas de peão. “Eu comecei montando como peão, mas o pessoal dizia que meu talento era trabalhar de salva-vidas. O segredo é entrar na arena com a cabeça boa e ter respeito pelo touro. Eu tenho muito orgulho do que eu faço, sair de casa para salvar a vida de quem muitas vezes a gente nem conhece”, conta.

O repórter Leonidas Badaró entrevista Piaba e Abacaxi
O repórter Leonidas Badaró entrevista Piaba e Abacaxin – Foto Jardy Lopes

Maurício Cuiabano é dono de uma companhia de rodeios e sabe como é importante o trabalho de um salva-vidas em um rodeio. “Eles meninos dão a vida por um competidor. Sem esses rapazes, não tem rodeio. A atenção dentro da arena é tudo. São grandes heróis. O mundo do rodeio não existiria sem esses profissionais. Esses caras se machucam para salvar um peão. Eu não faria o trabalho deles, é muito arriscado. São verdadeiros salva-vidas”, explica Cuiabano.

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