Entre ausências, equívocos e os detalhes

A visita do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, foi didática por vários aspectos. Bons e ruins. O primeiro aspecto que chamou atenção foi o descompromisso que a bancada federal revelou com o tema, como se o Acre vivesse em uma espécie de Finlândia, onde a alegria prevalecesse e os problemas fossem mínimos.

Apenas o senador Sérgio Petecão, proponente da agenda, e o deputado federal Ulysses Araújo (União Brasil/AC). Este, por ser vice-presidente na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados, tinha, por coerência, que participar.

Não surpreendeu. Com uma percepção de Segurança Pública que se aproxima de um vendedor de quibe em porta de delegacia, Ulysses só faltou cometer a frase “a polícia prende e a Justiça solta”. Faltou pouco. Mas ainda deu tempo dele defender a ideia de que “as prisões não estão cheias” e que “é preciso construir mais presídios”.

A ausência da bancada federal demonstrou como os aspectos ideológicos estão se sobrepondo à agenda pública. O ministro Flávio Dino é uma das lideranças políticas da equipe de Lula mais odiada pelos oposicionistas. Comunica-se bem e faz sucessos nas redes sociais respondendo ponto a ponto às agressões que sofre.

Aliás, outra surpresa foi a frase do próprio ministro em relação aos recursos disponibilizados. “Já temos destinados ao Acre 91 milhões. Gastem o dinheiro rápido. Na hora que vocês gastarem, eu consigo mais”, prometeu Dino.

Dita em um tom lisonjeiro e brincalhão, soou até simpático. Mas, de fato, não é um raciocínio pedagógico. Passa a impressão de que existe uma fonte inesgotável de recursos públicos. E, de quebra, aponta para uma pressa que quase nunca acaba bem quando se trata de gastar com rigor verba pública. Sem contar outro detalhe: para acessar esses R$ 91 milhões é preciso apresentar projetos. O Governo do Acre tem feito isso com agilidade?

Flávio Dino adiantou também que já acionou o BNDES para que R$ 2 bilhões do Fundo Amazônia sejam destinados às ações de Segurança. O ministro citou compra de helicópteros, barcos, armamentos e tantas outras parafernalhas usadas como instrumental dos policiais como se estivessem ao alcance das mãos. É preciso reconhecer: ele tem o dom de tornar o linguajar complexo da turma da Segurança como algo que dependesse, fundamentalmente, da vontade política. Em boa medida, tem razão.

Duas ausências foram muito sentidas também no encontro de ontem em Brasileia: a de representantes do Exército Brasileiro e do grande comandante local Gladson Cameli. Praticamente toda a cúpula da Segurança Pública do ministério estava em Brasileia para discutir Segurança em Fronteira.

Não se concebe que isso não interesse diretamente ao EB. Quanto à ausência de Gladson… o que foi possível dizer? Conjutivite? Nesse ritmo, terá alguém que se apresse em perceber que tratar de ações ligadas à Segurança em Fronteira é um detalhe por aqui. Definitivamente, não é.

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