João Renato Jácome e Luciano Tavares
A final do Campeonato Carioca de Futebol 2018, que ocorre neste domingo, dia 08, tem dois times vestindo branco e preto: Vasco e Botafogo. Do Rio de Janeiro a Rio Branco, a torcida por ambos os clubes promete gritos e boas vibrações. E vai ser preciso mesmo, afinal, ao que tudo indica, será uma partida acirrada.
Enquanto o jogo não começa, os torcedores do Botafogo, que serão acompanhados até o fim da partida pelo ac24horas, se preparam para assistir aos 90 minutos de jogo no Maracanã, que está com a casa cheia. Na da melhor que o sofá de casa, ligados na telelinha.
Osmir Lima, como diz sempre fazer, sentou em frente à TV com o neto Kristoffer e o amigo Normando Sales. E quando fizeram um minuto de silencio em campo [pode acreditar], também teve pausa nas palavras no sofá de Osmir.
O jogo começou e as avaliações [técnicas e de torcedores], também! Osmar faz questão de dizer: “Aqui, só a ‘Diretoria’ se reúne. A gente senta no sofá, ou lá na área, sem apostos para torcer pelo Botafogo. A gente tem que torcer!”, comenta.
E o jogo começou com falta logo nos primeiros minutos, provocada pelo Carli contra o Riascos, quase no centro do campo. Emoção logo ao quinto minuto: Botafogo tenta o contra-ataque e a bola chega em Renatinho. Mas o camisa 7 do Alvinegro tenta o cruzamento e a zaga do Vasco consegue tirar.
Os minutos foram passando e a bola não entrava para o gol, sinal de que o jogo seria ainda mais emocionante. A todos momentos, Osmir fazia apontamentos sobre o esquema de jogo. O zero a zero representaria a vitória do Vasco, tudo que o trio não queria neste domingo.
“Esse ataque não está tendo objetividade”, dizia Normando. “Nem para cravar um pênalti”, completava Osmar, ao dizer: “O Vasco tem um a menos desde o início do jogo, mesmo assim, não fizeram nenhum gol. Kristoffer concorda e reafirma: “Desde o primeiro tempo… é vergonhoso! São faltas muito infantis!”
Já no segundo tempo, aos 20 minutos, o trio começou a vibrar: Leo Valencia mandou a bola para a grande área, mas com a intervenção de Breener a bola foi desviada, e Martín Silva (que já vinha defendendo fortemente), voltou a segurar a bola. Foi um “quase gol” para o Botafogo.
“O cara tá passando mal, olha lá, é o Moisés”, dizia Osmir ao neto Kristoffer, e ao amigo Normando, quando as câmeras mostraram a área dos reservas com alguém no chão. Nos próximos minutos, o Botafogo começa a fortalecer o ataque, mas o Vasco marca em cima, e não deixa a bola rodar por muito dentro.
A bola rolava enquanto o trio já não acreditava mais em um gol do time do botafoguense. E quando o cronometro da tela marcada 49 minutos, enfim, saiu o primeiro gol da partida. Assim, o Vasco não era mais o propenso campeão, teria de brigar mais um pouco nos pênaltis.
O responsável por isso? Joel Carli. Isso mesmo! Igor Rabello estava com a bola, mandou para Pimpão, e deixou Kieza ligado. Não demorou e o atacante chutou a bola de bico; passou por entre os dois zagueiros, e rápido como a piscada dos olhos, Carli marcou 1 a 0 para o Botafogo.
Já nos pênaltis, foi o gol de Henrique que garantiu a vitória para o Botafogo. Gatito pegou duas cobranças do Vasco e, com o gol de Henrique, já não se tinha mais o que fazer. Último pênalti, última chance, conquista para os botafoguenses comemorarem o título. “Lamentamos ao Vasco, mas aqui é Botafogo! Foi lindo, foi maravilhoso, foi muita emoção”, diz Osmir.
Um vascaíno de coração
O Vasco tinha a vantagem na final do Campeonato Carioca, mas deixou o Botafogo fazer um gol nos acréscimos do segundo tempo e virar campeão estadual do Rio de Janeiro nos pênaltis, jogando um balde de água fria na torcida vascaína.
O ac24horas acompanhou o jogo na sede da Torcida Força Jovem do Vasco na rua Otávio Rola, em Rio Branco, que ficou lotada.
Nosso personagem é o Ney, que saiu de casa cedo para assistir a final entre o seu time de coração, o Vasco da Gama, e o time da Estrela Solitária.
Quando o Vasco entra em campo é um dia especial para Ney. Mas a emoção é elevada quando o Cruzmaltino chega a uma final. É um título em jogo.
Neste domingo, Ney seguiu seu ritual sagrado, uma espécie de jejum inconsciente pelo seu time. Ele conta que fica sem apetite. Perde a fome. Sequer almoçou ou tomou café neste domingo.
Chega a hora do jogo. Ney, entre as dezenas de vascaínos, é um torcedor agitado. Pula, canta, grita, xinga, comemora. Perde a voz. Anda de um lado para o outro. Bate no peito. Revela sua paixão. “Vamos todos cantar de coração, a Cruz de Malta é o meu pendão”, canta ele acompanhando seus colegas de torcida embalado por uma batucada vascaína.
O jogo inteiro ele fica apreensivo. Atravessa a rua, senta na calçada, abaixa a cabeça e rói a unha nervoso. O Botafogo marca nos acréscimos, vence nos pênaltis e no olhar de Ney a decepção é visível, mas a paixão de torcedor também.
Ney herdou do pai a paixão pelo time de São Januário. Virou vascaíno quando seu time foi campeão da Copa Mercosul em 2000 ao vencer de virada o Palmeiras por 4 a 3 em um jogo histórico que não sai da cabeça dos vascaínos.
Vasco na pele
Há dois anos quando o Vasco da Gama foi rebaixado no Campeonato Brasileiro, Ney inverteu em si mesmo a lógica de um torcedor.
Apaixonado pela Cruz de Malta, símbolo maior de seu time de coração, ele tatuou nas costas as iniciais CRVG (Clube de Regatas Vasco da Gama) e desenhou o escudo do clube carioca em um momento triste e de pronfuda crise. A partir dali a relação entre Ney e o Vasco era mais que um levantar de mãos, xingamentos naturais durante uma partida e gritos de gol. Não à toa, ele é conhecido como Ney Vascaíno. Assim está registrado seu nome no Facebook.
Das loucuras que fez pelo Vasco, Ney lembra o dia em que, ao comemorar um gol sobre o Flamengo, arquival de seu time, quebrou a máquina de lavar de sua esposa, que é flamenguista. “Comemorei tanto que quebrei a máquina de lavar. Mas não teve problema, não.”
Força Jovem do Vasco em Rio Branco
A sede da Torcida Força Jovem do Vasco em Rio Branco tem 60 membros. A página da torcida possui 12 mil seguidores no Facebook. No Acre, a torcida organizada existe há 10 anos.
“Cada torcedor contribui com 20 reais mensais para o aluguel da sede e manutenções”, conta Taynan, vice-presindente da Força Jovem no Acre.
Mas a Força Jovem acreana não é só torcida em dia de jogos. Os torcedores aproveitam para distribuir alimentos e brinquedos em datas simbólicas como o Natal, Dia das Crianças e Páscoa.