Durante a gestão do ex-governador Arnóbio Marques, o “Binho”, entre os anos de 2007 e 2010, o governo do estado, através da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP), adquiriu seis patinetes elétricos, os chamados “Segways”. Na época, os cofres públicos gastaram exatos R$ 163.800,00 para pagar apenas seis unidades.
Quando os “Segways” foram adquiridos, o governo informou que o objetivo era monitorar com mais praticidade áreas como parques públicos ou o próprio Calçadão da Benjamin Constant, no Centro de Rio Branco (AC), local por onde passam milhares de pessoas diariamente.
A responsável por disponibilizar a compra e entregar os produtos foi a Empresa SGW Importação e Exportação, conforme publicado no dia 23 de novembro de 2009, no Diário Oficial do Estado do Acre (DOE-AC).
Na época da entrega dos patinetes, a então secretária de Segurança Pública, Márcia Regina Pereira [que hoje responde pela Casa Civil do Estado], explicou que as ações faziam parte do fortalecimento da política de regionalização da Segurança Pública, com o objetivo de ampliar o alcance da atuação das polícias Civil e Militar junto às comunidades. Além dos patinetes, outros equipamentos como armas e coletes também foram entregues às forças de segurança do departamento.
“Com isso, seguimos a meta de trabalhar e servir à comunidade integrando ainda mais as ações e dando às polícias condições de cada vez mais melhorarem o cumprimento de suas responsabilidades”, avaliou a então gestora.
Em vários momentos daquele ano, e do seguinte (2010), a SESP e a Polícia Militar (PM), veicularam a utilização dos produtos. Práticos, leves e bastante ágeis, os patinetes se tornaram, à época, objeto de inovação para a PM do Acre. Treinamentos duradouros e bons discursos não faltaram aos policiais que tiveram a oportunidade de utilizar um dos mais “inovadores” produtos do governo acreano.
Em entrevista à Agência de Notícias do Acre, realizada no dia 11 de dezembro de 2009, a então Coronel Lúcia, da PM, comentou que além de receber treinamento para utilizar os patinetes, os militares estavam obtendo treinamento tático de combate à criminalidade a partir do veículo. “Ele é ideal para circulação em parques e calçadões, onde a passagem de viaturas policiais não é possível”, argumentou o militar ao enaltecer o uso do produto.
Antonio Campos, servidor público, conta que viu poucas vezes os patinetes serem utilizados. “Eu mesmo só vi umas duas vezes passado aqui em frente ao restaurante. E olha que a gente fica aqui no Parque da Maternidade, mas nunca mais vi aqueles carrinhos”, comento o homem que trabalha no Parque da Maternidade, um dos pontos turísticos da capital acreana.
Na época em que o governo comprou os utilitários, um representante da fábrica esteve no Acre para preparar os condutores. Para quem não sabe, o Segway é um equipamento ideal para patrulhamento em curtas e médias distâncias. Ele é bastante utilizado pela polícia dos Estados Unidos e alguns países da Europa. Lá, a utilizaçao deu certo e ainda hoje, em pleno ano 2015, os serviços são realizados a todo vapor.
Diversas outras capitais do país usaram e continuam usando os veículos, mas no Acre, foi diferente. Os veículos saíram das ruas e não foram mais vistos pela população. Como o Governo Binho foi bastante ecológico, instituindo, inclusive, a utilização de papel reciclado nos órgãos públicos, a decisão de utilizar o Segway também foi tomada pela performance ambiental do produto, que não precisava de combustível fóssil, mas apenas de uma recarga na tomada, com energia elétrica.
Um dos momentos em que os veículos foram utilizados, foi durante o “Carnaval Legal Floresta Digital”, que aconteceu em 2010, no estacionamento do estádio Arena da Floresta. Com caráter totalmente tecnológico, os “segways” foram fortemente utilizados para fazer a segurança de todos os equipamentos utilizados pelo setor de computação do governo acreano.
Após o Carvanal daquele ano, os patinetes foram utilizados no desfile do dia 7 de Setembro, data em que se comemora a Independência do Brasil. O então governador Binho Manques chegou a visitar toda a área e fiscalizar os espaços por onde os veículos passariam. Em entrevista, o ex-comandante da PM, Cel. Romário Célio, falou sobre o que seria apresentado no desfile e citou, inclusive, os “segways”. Veja abaixo.
“A Polícia Militar tem intensificado o policiamento ostensivo desde o ingresso dos 600 novos agentes. No desfile de 7 de Setembro, a sociedade vai ter a oportunidade de verificar boa parte dos investimentos do Governo na segurança pública, com policiamento a pé, agentes em quadricíclos, segway, motocicletas, entre outros”, explicou o então chefe-geral da corporação.
Procurada, a SESP explicou, através de nota, que os segways foram “utilizados na ronda por policiais militares” e que os produtos, que custaram quase R$ 200 mil, faziam parte de “um projeto piloto e que o uso do equipamento não foi aprovado”.
Para chegar a essa conclusão, a SESP informou que por ser um “equipamento importado”e não possuir “manutenção no Acre ficou inviável a parte de custeio e logística. Portanto, os equipamentos foram desativados e permanecem guardados, sob a responsabilidade da Polícia Militar”, informou o órgão ao ac24horas.
Adriana Leite, moradora do Bairro Capoeira, localizado na região central de Rio Branco (AC), comentou que acha “um absurdo gastar tanto dinheiro com um produto que depois vai ser descartado”. A autônoma acredita que “é por conta de políticas públicas falidas que o estado está sofrendo com tantos crimes”, critica.
