Hidrelétricas do Madeira: “Usinas podem resultar em catástrofe”, diz pesquisador

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O pesquisador Artur Moret, da Universidade Federal de Rondônia (Unir), alerta que as usinas hidrelétrica de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, terão o que os hidrólogoss denominam de “curva de remanso” capaz de produzir resultados catastróficos em Rondônia e na Bolívia.

– No lago de Santo Antônio, a altura pode chegar a 2 metros. No lago de Jirau, a “curva de remanso” pode chegar a 6 metros, por causa do sedimento que vai ficar represado nesse lago, aumentando assim as possibilidades futuras de alagamento da Bolívia, da BR-364 e de outros lugares que ainda não sofreram cheias desse porte. Sem estudos e planos de contingência, o futuro é incerto – afirma.

Moret explica que atrás da represa existe a “curva de remanso”, que é um nível modificado pela represa, o que aumenta o alagamento acima da barragem.

– Já podemos ver os efeitos na BR-364. No Distrito de Jacy Paraná, a água invadiu a estrada interrompendo-a. Sem o efeito da curva de remanso, a altura não passaria da mesma cota da barragem porque as usinas hidrelétricas do Madeira são estruturantes, ou seja, não alteram a cota. Entretanto, a curva de remanso eleva a altura do lago e os alagamentos em locais que não seriam afetados – acrescenta o pesquisador.

Moret assinala a existências das situações a montante (antes da barragem) e a jusante (após a barragem) em relação ao alagamento em Rondônia. Afirma que o alagamento a montante é resultado direto da construção das barragens.

– A jusante não podemos dizer que tenha relação direta, porque a barragem está bombeando toda a água que chega e isso nos informa que se não tivesse a barragem a enchente seria igual. A altura do alagamento já chegou a valores menores de 18 metros. Nesse ano as estimativas afirmam que o valor pode chegar a 18,30 metros.

Outra questão considerada importante pelo pesquisador se refere a operação das hidrelétricas.

– Não podem segurar água para diminuir o alagamento a jusante, tampouco bombear para diminuir o alagamento a montante. Caso segure água no lago para diminuir o alagamento a jusante, o resultado a montante seria ainda maior. Caso bombeie mais água do que a vazão para diminuir o alagamento a montante, o resultado na cidade de Porto Velho seria sério, porque a barragem é muito próxima da cidade e os efeitos do aumento da água nos igarapés aumentaria o alagamento no centro da cidade.

Por causa da cheia do Madeira, mais de 10,5 mil pessoas deixaram suas casas em Rondônia. A BR-364 teve que ser fechada para ônibus e e automóveis porque alguns trechos estão inundados. Apenas caminhões podem trafegar durante o dia na rodovia federal, que é a na única via de acesso terrestre do Acre ao restante do país. O Acre enfrenta problemas de abastecimento de insumos para construção civil, alimentos perecíveis, combustível e gás de cozinha.

Professor do mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Unir, com experiência na área de planejamento em energia elétrica, Artur Moret também critica o espantoso silêncio das organizações ambientalistas e dos políticos. 

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